Construindo narrativas visuais: um papo sobre a autoimagem
- Nicole Kate
- 24 de jan. de 2024
- 4 min de leitura
Falar de autoimagem é para todos um assunto delicado. Para muitos a aceitação do seu próprio reflexo ainda serve de gatilho e apesar de abranger nossa camada humana esse tema ganha uma profundidade adicional ao abordarmos as minorias e a autoestima em uma mesma conversa.
Sem querer trazer obviedades é notório que corpos pretos, LGBTQIA+, PCDs (pessoas com deficiência), são percebidos de maneira distinta nos contextos sociais e isso começa desde pequenininhos. Quando criança, com toda nossa inocência e sede de aprender, acabamos assimilando sentimentos à pessoas baseado nas ações delas, incorporando aquilo como uma verdade absoluta para nós.

Muitos dos nossos traumas da vida adulta nascem na nossa infância, quando ainda somos só uma esponja do meio e o mundo é cruel com os nossos corpos/corpas muito cedo. | Foto: Cottonbro Studio
E a forma com que nos vemos está completamente linkada à forma com que o mundo nos trata e isso determina nosso caminho para além de um espelho. Determina como nos portamos numa entrevista de emprego, em uma roda de conversa, nos relacionamentos e até mesmo ao escolher uma profissão, hobbies, um restaurante num domingo de folga e assim por diante.
Hoje eu quero trazer a imagem como foco da nossa conversa por aqui, entendendo qual o impacto dela no nosso dia-a-dia.
Ao nosso alcance, o que temos de mais perto e que normalmente anda colado com a gente é o nosso telefone e em tempos de redes sociais, mercado de influência, TikTok e Instagram estamos todos inundados de estímulos visuais por todos os lados o tempo todo.

Você já parou para pensar quanto tempo você passa conectado nas redes sociais diariamente? | Foto: Joslyn Pickens
É importante pensar em como estarmos conectados nos afeta, o que consumimos lá dentro vai reverberar em nosso entorno, contaminando não só nossa forma de ver o mundo mas também o valor que atribuímos a nós mesmos. Retornando para nossa infância e nosso funcionamento enquanto crianças, nossos pais agiam e nós reagimos a estímulos que eles nos davam e reproduzimos grande parte dos exemplos que eles nos deram e ainda dão, certo?
Com as redes sociais e as imagens o raciocínio é o mesmo, a diferença é que agora somos adultos e podemos filtrar aquilo que serve ou não para nós. Então o que quero salientar aqui é que uma única imagem seja ela qual for vai te impactar de algum jeito, do micro ao macro.
Sendo assim - e falando ainda sobre minorias, quão necessário é termos na nossa bolha imagens que conversem conosco e falem sobre nossa história? Como as coisas que vemos e consumimos formam o nosso indivíduo e como a fotografia, o audiovisual tem participação nisso?

A fotografia de celular traz autonomia e independência, é prática e usual | Foto: Nicole Kate No dia 13/01 (sábado), rolou em Uberlândia, o workshop “Não tem Cam, Vai com Cel” ministrado pelo fotógrafo e artista visual Felipe Vianna, onde ele nos ensina sobre como otimizar o uso do nosso telefone quando o assunto é fotografia e vídeo. No final do curso, ao trocar uma ideia com o Vianna, ele trouxe um ponto importante que quero destacar aqui: A importância do registro na construção da nossa memória pessoal e em como isso contribui para nossa autoestima.
“...O quão é importante me ver no passado, e esse passado tem total importância para quem eu sou hoje. Hoje eu valorizo muito o registro, guardar imagens para poder revisitar faz com que eu tenha uma nova visão de mim mesmo.” - disse Felipe Vianna, ao falar sobre sua relação com a fotografia.
Explorando a importância da imagem e sua influência, podemos nos posicionar como agentes fundamentais nessa estrutura. Cabe a nós não apenas consumir, mas também produzir, não necessariamente em grandes produções cinematográficas, mas sim nas pequenas coisas que nos atravessam diariamente.

Artista Felipe Vianna ministrando seu workshop presencial em Uberlândia | Foto: Nicole Kate
Seja por meio de uma selfie, de um autorretrato ou de um recorte da nossa visão do mundo, cada imagem é um fragmento de quem somos, uma expressão tangível de nossa história e perspectiva. Democratizar essa forma de expressão artística, trazendo a fotografia e o cinema para mais próximo de nós, significa oferecer uma ferramenta que pode ser utilizada de maneira mais significativa. Isso não apenas promove diálogos, mas, de forma mais simples, pode servir como um auxílio valioso no processo de reconhecer a beleza em nós mesmos
Pensando em como tornar acessível essa produção, Vianna disse: “O celular ele veio como uma democratização, as coisas estão indo muito mais para o caminho onde a maioria das coisas serão criadas pelo telefone. A mobilidade do celular e aceitação/praticidade vai comandar os espaços cada vez mais”
Ou seja, é pertinente considerar nossos aparelhos como instrumentos potenciais, em última análise, essa jornada reflexiva sobre a imagem não é apenas uma observação estética, é um convite à introspecção e conscientização dos produtos visuais que escolhemos consumir todos os dias, procurar olhar menos para o lado e um pouco mais para si.
Isso torna, para mim pelo menos, o audiovisual um espaço mágico. É um tipo de manifestação que vem como um chamado para cultivar em nossa esfera visual aquelas imagens que transcendem o “belo” para se tornarem narrativas autênticas de quem somos. Ocupar o palco da nossa vida e contar nossa história, sem parafrasear o que o outro já nos contou sobre nós mesmos, é um ato revolucionário.
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Texto por: Nicole Kate - Redatora e Artista independente